segunda-feira, 13 de julho de 2015

Sophia de Melo Breyner Andresen

Hoje decidi fazer uma pequena homenagem à minha poetisa preferida: Sophia de Mello Breyner Andresen. Aqui vão alguns dos meus poemas favoritos. Espero que gostem!

Noite

Sozinha estou entre paredes brancas
Pela janela azul entrou a noite,
Com o rosto altíssimo de estrelas.

Passagem

O êxtase do ar e a palavra do vento
Povoaram de ti meu pensamento.

Despedida

Na estação na tarde o fumo
O rumor o vaivém as faces
Anónimas
Criam no interior do amor um outro cais

As lágrimas
O fogo da minha alma as queima antes que brotem.

Felicidade

Pela flor pelo vento pelo fogo
Pela estrela da noite tão límpida e serena
Pelo nacar do tempo pelo cipreste agudo
Pelo amor sem ironia - por tudo
Que atentamente esperamos
Reconheci tua presença incerta
Tua presença fantástica e liberta.

EIS-ME

Eis-me
Tendo - me despido de todos os meus mantos
Tendo - me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce a escada do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente.

Dedico este último poema à minha mãe (uma pequena grande senhora) que,  infelizmente,  já não se encontra entre nós,  mas que permanecerá para sempre dentro de nós.

Sobre Sophia...

Esta poetisa fantástica, que joga maravilhosamente com as palavras, nasceu a 6 de Novembro de 1919 no Porto.
Tinha origem dinamarquesa por parte do pai.
Foi criada na velha aristocracia portuguesa e educada nos valores tradicionais da moral cristã.
Casou-se em 1946 com o jornalista,  político e advogado Francisco Sousa Tavares e teve cinco filhos.
Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu livro Livro sexto.
Em 1998 ganhou o Prémio Camões e foi agraciada com um Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro.
Em 2003 foi distinguida com o Prémio Rainha Sofia.
Sophia faleceu,  aos 84 anos,  no dia 2 de Julho de 2004 em Lisboa.
Foi trasladada para o Panteão Nacional no dia 2 de Julho de 2014.

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